quinta-feira, março 31, 2005

Com tanto crime que continua impune...

Hoje, em Setúbal, recomeça um julgamento por crime de aborto que senta no banco dos réus três mulheres duas jovens e uma enfermeira-parteira (aqui).

Todo o caso é muito interessante. Um juiz havia arquivado o processo, em 2002, alegando falta de provas. Mas, mais tarde, um procurador do ministério público, inconformado com a decisão, reabre o processo, alegando a ilegalidade do arquivamento. Digam lá que este não é um procurador zeloso? É um verdadeiro justiceiro. Falta saber se ele é, também, zeloso noutras matérias — que no fundo importa de facto julgar e punir, digo eu, não sei.

quarta-feira, março 30, 2005

É assim

Ontem, um grupo de activistas do Greenpeace bloqueou a entrada da empresa Vicaima, em Vale de Cambra. Os activistas protestavam contra o uso de madeira importada ilegalmente da amazónia brasileira. Após denúncia, foram detidos e constituídos arguídos por invasão da sacro-santa propriedade privada. Já os administradores da empresa, que agrediram, segundo o relato de testemunhas, um activista e um operador de câmara, não foram detidos nem constituídos arguídos. É que "não foram apanhadados em flagrante delito", alegam as autoridades (aqui).

Em defesa das autoridades, é importante referir que estes grupo de ambientalistas é constituído por oito espanhois e um alemão. Então esta estrageirada julga que pode vir armar arruaça na terra dos outros? Com as gentes de Vale de Cambra não se brinca — cadeia com eles! Como toda a gente sabe Portugal é um estado de direito. Portugal é membro da UE. Em Portugal a lei é igual para todos — mas, também como toda a gente sabe, aplica-se de forma mais rígida a uns do que a outros. É assim.

terça-feira, março 29, 2005

Nascem três crias de lince ibérico em cativeiro

Em Doñana, na Andaluzia, nascem as primeiras crias em cativeiro do lince ibérico (aqui).

Lisbon Earthquake of 1755 on BBC

The BBC radio 4 dedicated a program to the Lisbon Earthquake. This program compares the international response to the earthquake and tsunami in Lisbon in 17555, with the Asian tsunami of December 2004. The program can be heard from here.

Dá vontade de rir

A associação de imprensa estrangeira em Portugal entrega, hoje, a Durão Barroso o prémio personalidade do ano 2004 (aqui).

segunda-feira, março 28, 2005

Cannabis, psicose e esquizofrenia

A última edição da New Scientist traz um artigo muito interessante sobre o consumo de cannabis e a sua relação com a psicose e esquizofrenia (aqui). Este assunto saltou para a ribalta aqui no Reino Unido, após Charles Clarke, o ministro da administração interna, ter declarado a sua intenção de rever a decisão (tomada pelo seu antecessor no cargo, David Blanket) de descer a cannabis como droga de classe B para C (em termos prácticos, esta descida significa que a posse de cannabis passa a não ser considerada crime; esta descida já foi aprovada no parlamento britânico). Clarke defende a sua posição à luz dos novos dados científicos sobre esta droga e o seu efeito na saúde mental de quem a consome. Os dados científicos a que Clarke alude e outros, são discutidos com rigor pela New Scientist. Vale a pena ler o artigo, deixo aqui apenas um breve resumo.

Primeiro importa clarificar conceitos. Psicose é um sintoma de problemas mentais, caracterizada por alucinações visuais ou auditivas, mas não é uma doença; algumas drogas como os halucinogénicos e até a cannabis (se tomada em grandes doses num curto período) podem causar episódios psicóticos. A esquizofrenia é uma doença mental psicótica. Os pacientes desta doença podem ter crenças ilusórias como outrém está a ler a sua mente, ou que são muito ricos, poderosos, ou famosos; são incapazes de lidar com a vida diária, e a maioria deles nem tem consciência que o seu estado não é normal.

Vários estudos, efectuados desdes os anos 70, focam em grupos que fumam cannabis com regularidade desde a adolescência. A conclusão destes estudos é que existe uma grande percentagem de pessoas que sofrem de doenças psicóticas, como a esquizofrenia, e que foram consumidores regulares de cannabis enquanto adolescentes. No entanto, o ênfase dado a estes estudos tem vido a ser criticado, pois não se pode afirmar que o consumo regular de cannabis cause doenças psicóticas como a esquizofrenia. Na Austrália, um grupo colocou a hipótese: como houve um aumento substancial do consumo de cannabis na Austrália entre os adolescentes nos últimos 30 anos, então, se existe de facto uma relação casual, também deverá ter havido um aumento de casos de esquizofrenia. Esta hipótese foi refutada por este estudo: não houve um aumento de casos de esquizofrenia na Austrália nos últimos 30 anos, apesar do aumento no consumo de cannabis.

Um estudo mais recente toma em conta um novo factor: a predisposição genética para a esquizofrenia. Os resultados deste estudo foram mais claros que os anteriores. Em pessoas sem predisposição genética para a esquizofrenia, o consumo de cannabis pouco ou nada afectou a sua saúde mental. Em pessoas com média predisposição, o consumo de cannabis aumentou ligeiramente o risco de doença psicótica. Mas em pessoas com muita predisposição, o consumo regular de cannabis enquanto adolescentes, aumentou a probabilidade de desenvolver doença psicótica por um factor de 10.

O que estes estudos mostram é que o risco de deterioração da saúde mental se aplica a um conjunto reduzido de jovens que começam a fumar cannabis muito jovens. É necessário tomar medidas drásticas, do ponto de vista legislativo, por causa disso? As pessoas que são vulneráveis a problemas de fígado, têm um risco deterioração da sua saúde, mesmo bebendo álcool em pequenas quantidades. Alguém prevê alterar a legislação sobre o consumo do álcool por causa disto?

domingo, março 27, 2005

O Caso da violência homófoba em Viseu

Durante a última semana, o DN acompanhou o caso da violência homófoba em Viseu. Nesta cidade, um grupo de homens constituíu uma milícia anti-homossexual. Armados em machos justiceiros, estes homens dirigem-se regularmente ao quilómetro 87 do IP5 — um local de engate de homessexuais — para ameaçar e agredir quem por lá está, com o objectvo de, nas palavras dos membros deste grupo, "limpar toda esta porcaria". A polícia já recebeu ínumeras queixas mas pouco faz, até que o caso chegou à imprensa e então sim começaram fazer alguma coisa.

O DN de ontem discute este caso (aqui 1, 2). E podem acompanhar o desenvolvimento do caso, durante a última semana, no blogue Renas e Veados.

sábado, março 26, 2005

Música aqui no BNC

Inspirados no bomba inteligente, decidimos por música aqui no Blogue do Nuno e da Chiara (BNC) — o controlo da música fica aqui do lado esquerdo, para tocar carregem no play. Escolhemos uma música para esta época da páscoa: a procissão do Gilberto Gil (letra aqui).

Boa Páscoa.

quinta-feira, março 24, 2005

Seca, Alqueva e Estádios de Futebol


In Público de 24/03/2005. O Bartoon de Luís Afonso.

O Novo Referendo do Aborto

O novo referendo ao aborto tudo indica que irá ocorrer ainda este ano (aqui 1, 2). O cardeal patriarca, D. José Policarpo, mostra-se incomodado com o referendo porque, defende, este pode dividir a sociedade:
O caso concreto do aborto, é antes demais uma questão muito dolorosa, que divide a sociedade, até porque tem sido muito hipertrofiada, nem sempre apresentada com a clareza do drama. É uma questão fracturante, que vai dividir a sociedade ao meio. Num referente, ganhe o sim ou o não, é apenas uma página mais do drama, porque a sociedade ficará mais dividida. Num momento em que Portugal precisa convergir, não sei se é prudente... (aqui 1, 2, 3)
A sociedade portuguesa há muito que está divida nesta questão. E não é, concerteza, o silêncio que vai apaziguar a sociedade. D José Policarpo adianta:
É um erro no qual eu não quero colaborar: o de apresentar o não ao aborto como uma questão religiosa. Não é uma questão religiosa, é uma questão de cultura, é uma questão de ética fundamental. (aqui)
Se não é uma questão religiosa então, por favor, não venham fazer campanha eleitoral pelo "não" nas missas dominicais. Eu concordo consigo, D José Policarpo, é uma questão de ética. A minha ética é não fechar os olhos à realidade, à injustiça e ao sofrimento de milhares de mulheres que em Portugal se vêm forçadas a recorrer ao aborto ilegal.
Em Portugal são praticados, pelo menos, 20.000 abortos ilegais por ano. Em resultado de complicações resultantes desses abortos ilegais, todos os anos cerca de 5.000 mulheres são atendidas em hospitais e, nos últimos 20 anos, morreram cerca de 100 mulheres desnecessariamente (dados do Ministério da saúde, APF). Isto significa que em Portugal uma mulher tem um risco de morrer em resultado de um aborto 150 vezes superior ao de uma mulher que viva nos Países Baixos. (aqui)
O referendo ao aborto vai ser uma das batalhas mais interessantes que se irão travar em Portugal. Não é apenas o aborto que está aqui em questão. É o princípio da livre escolha na nossa sociedade. É um Portugal moderno, que as pessoas mais conservadoras em Portugal se opõem. Vai ser uma batalha difícil: vamos ter que lutar contra o dogma religioso.

terça-feira, março 22, 2005

Racismo e Xenofobia em Portugal

Nos blogues Diário de Lisboa e Barnabé assiste-se a uma interessante discussão sobre o Racismo e Xenofobia em Portugal (aqui 1, 2, 3). Esta discussão envolve autores e leitores, portugueses e brasileiros (e eu também fiz alguns comentários). Decidi escrever um post sobre o assunto.

É evidente que existe racismo e xenofobia em Portugal. Os posts (e respectivos comentários) acima citados mostram isso. As pessoas desculpam-se: "ah isso é assim em todo o lado!" Mas pelos vistos as coisas não não são bem assim. Os estrangeiros que vivem em Portugal já se vinham queixando, especialmente os brasileiros. Agora, um estudo do Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos vem de facto confirmar que os portugueses até são mais racistas e xenófobos do que a média europeia. Segundo o tal estudo, "Portugal foi o quarto país, entre os Vinte e Cinco que actualmente compõem a UE, a revelar uma maior resistência aos imigrantes, com 62,5 por cento dos inquiridos a responderem contra a entrada de mais estrangeiros no país, número superior à média, que se situou nos 50 por cento." (aqui 1, 2) O país mais xenófobo, de acordo com este estudo, é a Grécia, os outros países mais racistas que Portugal são a Hungria e a Áustria.

O presidente da república, Jorge Sampaio, lamentou os resultados deste estudo (aqui 1, 2). Foi também já anunciada uma campanha publicitária contra a descriminação pelo alto-comissariado para a imigração (aqui). Jorge Sampaio e Vaz Pinto pedem uma alteração à lei de nacionalidade. A actual lei não garante nacionalidade portuguesa aos que sendo filhos de estrangeiros, nasceram e sempre viveram em Portugal. Nas palavras de Jorge Sampaio (daqui):
Conheço dezenas de casos de pessoas e jovens que são cidadãos portugueses, não sabem nada dos outros países e estão à margem da sociedade porque não lhes é concedida a nacionalidade portuguesa. (..) Não pode ser uma política de porta aberta, mas deve ser assumida de forma séria e tendo em vista a integração das pessoas. (...) Não há cidadãos dispensáveis.
Os resultados deste estudo são de facto preocupantes. Acho que temos mesmo que levar o combate ao racismo e à xenofobia mais a sério. Não podemos fechar os olhos perante esta realidade. Certos comentários racistas que entre portugueses "passam" têm mesmo que começar a ser veementemente condenados. Eu que vivo no estrangeiro e estou sempre a criticar a xenofobia britânia, não posso ficar quieto perante isto. Aqui fica o meu contributo para uma maior consciência deste problema por parte dos portugueses, acompanhado de um link para a ONG SOS Racismo — RACISMO E XENOFOBIA, NÃO!

A Comunhão Eucarística do Pe Serras Pereira




In Avante 03/03/2005. Obtido do Blogue Diário Ateísta. O cartoon é da autoria de Monginho, o cartoonista do jornal "Avante".

Lince Ibérico (II)

O perigo da extinsão do lince ibérico também já é notícia na revista britânica New Scientist. O lince ibérico poderá ser o primeiro grande felino extinto desde o tigre de dente de sabre, é que os cercas de 100 exemplares desta espécie que ainda existem continuam ameaçados por estradas e projectos de barragens (aqui NS, WWF-Es).

segunda-feira, março 21, 2005

Demonstration for Peace in London

On the last saturday (19/3/2005), there was a lovely demonstration for peace in London. We spent the weekend in London — not for the demonstration, but for the Caravaggio exposition —, and we were impressed and amused by the atmosphere of the event. Here we leave you some photographs.


Anti-war speaches at trafalgar square.


Demonstration banner depicting Bush and Blair.

sexta-feira, março 18, 2005

Aquecimento Global (II)

O aquecimento global está, definitavamente, na ordem do dia. Cada edição da revista semanal New Scientist, por exemplo, tem um artigo ou coluna dedicado a este tema. No mês passado, decorreu uma conferência, organizada pelo governo britânco (que preside, actualmente, o G8), dedicada a este tema. A mensagem da conferência foi que estamos a chegar a um ponto sem retorno (the point of no return), "os elevados níveis de dióxido de carbono e as consequentes altas temperaturas irão assumir proporções catastróficas que levarão séculos ou milénios a retroceder" (aqui); é necessário agir antes que seja tarde demais.

É necessário começar a reduzir, drasticamente, as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, de acordo com o protocolo de Quioto. Mas, uma das razões para não se fazer nada, dizem os cépticos, é que a redução das emissões irá atingir negativamente as aconomias. De acordo com Jeniffer Morgan da WWF, a organização que se preocupa com a protecção da natureza, as economias poderão ser gravemente atingidas com as conseqências do aquecimento global; portanto nada fazer e fechar os olhos à realidade sobre este problema também terá os seus custos (aqui). Morgan dá como exemplo os glaciares dos Himalaias, que sofreram uma redução acentuada nos últimos anos. Se estes glaciares desaparecerem, grandes rios como o Ganges (na Índia) e o Yangtze (na China) poderão, também, ficar seriamente reduzidos, é que os glaciares dos Himalaias alimentam estes rios. Isto poderá ter graves consequências para as economias em crescimento da China e da Índia.


Portugal atravessa um período de seca. As fotografias satélite que se seguem mostram o território Português, respectivamente, em Fevereiro de 2004 e Fevereiro de 2005. Os efeitos da seca são facilmente observáveis. (Mais sobre a seca em Portugal aqui). Não posso afirmar que a seca seja consequência do aquecimento Global, mas a verdade é que o planeta tem sofrido um aquecimento acentuado nos últimos anos.

A fotografia que se segue é do monte Kilimanjaro na Tanzânia. Esta fotografia mostra o cume da montanha sem neve no mês de Março, pela primeira vez e há mais de séculos (aqui).

Pelos visto, já começa a ficar tarde para se fazer alguma coisa!

terça-feira, março 15, 2005

Enjoying Freedom


In New York Times.

sábado, março 12, 2005

Céu de Iorque num dia de Inverno

sexta-feira, março 11, 2005

O atentado de Madrid foi há um ano






O Mito da Inovação

No Público de ontem saiu uma entrevista de Manuel Castells, o professor da universidade da Califórnia e especialista na sociedade de Informação, que foi a Lisboa para participar numa conferência organizada por Jorge Sampaio, "A sociedade em rede e a economia do conhecimento" (aqui). Manuel Castells é uma dos arquitectos da muito falada estratégia de Lisboa: a estratégia da UE face à inovação, delineada aquando da presidência portuguesa da UE. O editorial desta edição do Público, da autoria de José Manuel Fernandes, também fala sobre esta entrevista e do desafio da inovação em Portugal (aqui).

Para começar acho que há algum lirismo quando oiço falar em inovação. A inovação nasce da investigação ciêntifica, que é um trabalho desenvolvido por investigadores que são pessoas treinadas para este efeito. Como em todas as actividades, há investigadores mais talentosos, outros menos talentosos, mas a investigação, como qualquer outra actividade, requere treino e preparação. Na entrevista Manuel Castells usa a denominação de "inovadores", que eu não sei muito bem quem são. Manuel Castells diz "Para os inovadores o trabalho é um prazer, onde o jogo e a inovação se misturam. Ganhar dinheiro é a última das suas preocupações." José Manuel Fernandes pega nesta declaração e acrescenta: "Para os portugueses é ao contrário: o que conta é ganhar dinheiro e ter segurança no emprego, ter uma casa e carro à porta."

Eu estou a tirar uma graduação para investigação ciêntifica, trabalho em investigação e num ambiente de investigação. Mas não me considero um inovador, no meu departamento há investigadores brilhantes mas não sei se existe entre eles algum inovador. Gostaria de dizer ao senhores Castells e Fernandes que gostaria de seguir uma carreira de investigação ciêntifica, e, no entanto, como todos os portugueses, também gostaria de ter uma casa, um carro e alguma segurança no trabalho. A declaração de Castells é infeliz, o que Castels, provavelmente, queria dizer é que "as pessoas que trabalham no campo da inovação trabalham por prazer, e que põem o prazer no trabalho à frente do dinheiro, mas como todos as pessoas, gostam de sentir que são remuneradas de uma forma justa." Não creio que o dinheiro seja a última das preocupação dos investigadores, ainda no ano passado os professores do meu departamento (que inclui excelentes investigadores) fizeram greve, reclamando melhores condições salariais.

A estratégia de Lisboa é considerada hoje um fracasso. Um dos objectivos da estratégia, estabelecida em 2001, era a convergência com a competitividade e produtividade dos EUA. Na verdade, o que ocorreu foi divergência. Durão Barroso, na CE, e José sócrates, como PM em Portugal, pretendem ressuscitar a estratégia de Lisboa. Devo dizer que não espero grandes avanços em termos de inovação em Portugal, apesar desta redobrada atenção do poder. O problema da inovação em Portugal é cultural, um problema da sociedade como um todo. A inovação é uma coisa sensível, precisa do seu habitat próprio, não nasce assim sem mais nem menos. Para se conseguir bons níveis de inovação em Portugal, e dos consequentes frutos económicos, é preciso mudar mentalidades, é preciso pessoas competentes, é preciso lideranças fortes e capazes, é preciso criar um clima de confiança nas instituições. Enquanto muitos lugares de decisão em Portugal forem atribuídos com base no clintelismo, em vez do mérito, acho que não vamos muito longe.

Para finalizar deixo algumas excertos da entrevista do Castells, que eu gostei:
Não se evoluiu no desenvolvimento de novas formas de organização, não se mudou a saúde, a educação, a administração. Avançou-se nas redes de comunicações, o que é muito importante porque as redes são a infra-estrutura, mas é o mais fácil de fazer.

(...) cada cultura e cada sistema institucional têm de encontrar o seu próprio modelo a partir de um núcleo comum de princípios: o papel central das tecnologias de informação e comunicação e da inovação, o conhecimento como matéria-prima, a ideia de que o valor acrescentado está mais no processo do que o produto.

quarta-feira, março 09, 2005

O Lince Ibérico

O lince ibérico é uma espécie em vias de extinsão, o que poderá acontecer a curto prazo. Segundo a associação portuguesa SOS Lince já só existem cerca de 100 examplares desta expécie em todo o mundo, o que constrasta com os 100 mil exemplares que existiam na península ibérica no princípio do século XX (aqui). O lince ibérico não se reproduz em cativeiro (pelo menos até agora nunca aconteceu), o que torna a preservação da espécie ainda mais difícil.


A preservação do lince ibérico é neste momento uma preocupação de ambientalista portugueses e espanhois. Mais informação sobre o lince ibérico aqui: 1, 2, 3.



Freedom, Democracy and Foreign Occupations



In Independent 08/03/2005

terça-feira, março 08, 2005

Dia Internacional da Mulher

Hoje é o dia internacional da mulher. Com este post deixo aqui duas referências alusivas a este dia: uma página das Nações Unidas sobre a história do dia da mulher (aqui) e uma referência para a notícia do público de hoje sobre uma "carta à humanidade" redigida por grupos feministas de todo o mundo (aqui), apelando à igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz no mundo. Envio, também, uma flor (virtual é certo, mas o que conta é a intenção) e um grande beijinho à Chiara e a todas as leitoras do Blogue do Nuno e da Chiara.

segunda-feira, março 07, 2005

Financial Times, um jornal de direita concerteza!

Já não tenho dúvidas, o Financial Times é um jornal de direita concerteza! Eu já via o "Financial" no nome do jornal como um forte indício, mas com o artigo de hoje, sobre a formação do novo governo português, as minhas dúvidas sobre a orientação política deste jornal passaram a certezas.

O artigo de hoje, da autoria do senhor Peter Wise, o correspondente do FT em Lisboa, mostra surpresa pela nomeação de Diogo Freitas do Amaral como ministro dos negócios estrangeiros (aqui 1, 2). Diz o FT que Freitas do Amaral é um antigo líder conservador e um crítico da invasão do Iraque liderada pelos EUA, o FT refere ainda que Freitas do Amaral chegou a comparar George W. Bush a um ditador fascista. O FT cita a reação do CDS/PP a esta nomeação: "pode prejudicar as relações próximas que existem entre Portugal e os EUA". O artigo do FT refere ainda que o novo governo inclui dois ex-membros do partido comunista português!

O senhor Wise, autor do artigo, demonstra alguma inocência em relação a Portugal e à forma como funciona a política neste país tão especial. O país é de facto tão especial que o senhor Wise demonstra até algum despeito. Senhor Wise, gostaria de lhe dizer algumas coisas sobre a política em Portugal e na Europa.
  1. As declarações do CDS/PP como partido têm que ser interpretadas com cuidado, senhor Wise. O CDS/PP é um partido muito traumatizado. Sofreu uma pesada derrota nas ultimas eleições, tendo perdido o seu líder. Apresenta, portanto, neste momento, o sintoma do cão sem dono, ou seja, não sabe se há-de ladrar, rosnar ou ganir, morder ou lamber, ser agressivo ou meigo. Este partido tem também o complexo do filho renegado em relação a Freitas do Amaral, um dos fundadores do partido. Portanto as declarações deste partido sobre Freitas do Amaral são sempre azedas, melindrosas, e sempre muito pouco racionais. O caso do CDS/PP é do foro psiquiátrico, senhor Wise. Como se faz com as declarações de todos os doidinhos, senhor Wise, o melhor é sorrir e dizer que sim acenando com a cabeça.
  2. Não é supresa que Freitas do Amaral se tenha oposto à invasão do Iraque, senhor Wise. Muitos outros políticos conceituados, por essa Europa fora, à esquerda e à direita, também se oposeram. A invasão do Iraque foi feita à margem do conselho de segurança das Nações Unidas, o que constitui uma violação do direito internacional, demonstra um profundo desrespeito pelas instituições, e abre um precendente perigosíssimo. Freitas do Amaral sempre respeitou as instituições, foi, aliás, presidente da assembleia geral das nações unidas. Muito lhe deve ter custado ver uma decisão tão séria como aquela, ser tomada de uma forma tão leviana à margem das NU, e por um conjuntos de países a quem se exige responsibilidade acrescida.
  3. Também não é supresa que o novo governo socialista (centro-esquerda) de Portugal seja composto por um ministro que foi líder de um partido conservador, e por dois ministros ex-comunistas. Talves seja surpresa para si, senhor Wise, que é britânico; eu compreendo, no seu país os partidos comunistas não têm expressão, e os partidos de centro-esquerda governam como se fossem partidos de centro-direita continentais. Mas na europa continental, e em especial no sul, as metamorfoses cromáticas são comuns, o espectro cromático, aliás, é mais diverso e cheio de contrastes. Em França, o governo socialista de Jospin era composto por vários ministros ex-comunistas e, até imagine-se, comunistas. Em Itália, Romano Prodi, o anterior presidente da comissão europeia, era de um partido democrata-cristão, agora é lider de uma coligação de centro-esquerda.
  4. Mas o político que mais "metamorfoseia", esquece o seu jornal de mencionar, é Durão Barroso, o actual presidente da comissão europeia. Durão Barroso é muito acarinhado pelo seu jornal, as sua políticas business-friendly são muito apreciadas nessa casa (aqui). Mas às vezes, no meio de tanto elogio, esquecem-se de mencionar aquilo em que ele é melhor: Durão Barroso é um autêntico e bravo camaleão. Foi de um partido de extrema-esquerda, depois mudou para um partido de centro-direita. Como ministro dos negócios estrangeiros, sempre defendeu o respeito pelas instituições e o direito internacional; mais tarde, como primeiro-ministro, reafirmou esta sua convicção, mas decidiu apoiar a invasão do Iraque. Recebeu um convite para assumir a presidência da CE quando era primeiro-ministro em Portugal, aceitou, mas deixou no lugar de primeiro ministro, que o povo português havia confiado a ele, um político que ele considera incompetente, que pensa de maneira muito diferente da sua, e que não dava quaisquer garantias de continuidade com o seu programa de governo.

sexta-feira, março 04, 2005

O Anúncio do Padre Serras Pereira

Aqui vai o anúncio do padre Nuno Serras Pereira, publicado em vários jornais portugueses (obtido do Blogue Diário Ateísta):

PARTICIPAÇÃO AOS INTERESSADOS

Na impossibilidade de contactar pessoalmente as pessoas envolvidas o padre Nuno Serras Pereira, sacerdote católico, vem por este meio dar público conhecimento que, em virtude do que estabelece o cânone 915 do Código de Direito Canónico,

está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes

quer através de diversas pílulas, do DIU, da pílula do dia seguinte - ou outras substâncias que para além do efeito contraceptivo possam ter também um efeito letal no recém concebido; quer por meio das técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração (sic), da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem...; quer através da legalização do aborto (votar ou participar em campanhas a seu favor), o que inclui a aceitação ou concordância com a actual «lei» em vigor (6/84 e seus acrescentos); quer ainda pela eutanásia.

O respeito pelo culto e pela reverência devida a Deus e a Seu Filho sacramentado, o cuidado pelo bem espiritual dos próprios, a necessidade de evitar escândalo, e a preocupação pelos sinais educativos e pedagógicos para com o povo cristão e para com todos são razões ponderosas que, seguramente, ajudarão a compreender a razão de ser deste grave dever que o cânone 915, vinculando a consciência, exige dos ministros da Eucaristia.

Da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo convida todos ao arrependimento e à retractação pública, para que refeita a comunhão com Deus e a Sua Igreja possam receber digna e frutuosamente o Corpo do Senhor.

a)_________________________
Pe Nuno Serras Pereira

In Público», de 2/3/2005, pg. 16

quinta-feira, março 03, 2005

Que País é? (II)

Um padre católico fez sair um anuncio na imprensa, declarando a sua recusa em dar a comunhão a todos os católicos que usam métodos contraceptivos ou que recorram à reprodução assistida, nas palavras do padre:
(...) todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes. [Através de] diversas pílulas, DIU [dispositivo intrauterino] e pílula do dia seguinte. [E os que recorrem a] técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração, da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem.
Que país é? Como é óbvio: Portugal. O mais conservador dos países católicos na europa, aonde ainda há padres que têm a lata de vir dizer coisas destas.

A publicação daquele anúncio nos princípais jornais portugueses custou 1300€ — o que dá que pensar —, segundo o padre, o franciscano Nuno Serras Pereira, o dinheiro para a publicação do anúncio foi comparticipada por alguns dos seus amigos (aqui). Felizmente, a igreja portuguesa veio oficialmente condenar esta acção e prometeu que o padre será admoestado — a ver se isto é só para mostrar desagrado perante as televisões, ou se é de facto para cumprir. Sobre este assunto há ainda o excelente artigo de opinião do Nuno Pacheco no Público (aqui).

Eu gostaria de dizer ao senhor padre Nuno Serras Pereira, e a outras pessoas que pensam como ele, que a sua decisão não me afecta minimamente. Não sou nem católico, nem cristão, nem de qualquer outra religião. Se algum dia me vier a casar, não será concerteza através da igreja católica. Não preciso da comunhão deste, ou de qualquer outro padre, para nada. Há muito que deixei de ligar a este tipo de mensagens vindas de certos sectores da Igreja portuguesa, como há muito que sou crítico em relação à influência que a igreja católica tem na vida dos portugueses. Nós, portugueses, não precisamos de vocês para nada, deixem-nos viver as nossas vidas, e deixem a nossa sexualidade em paz — basta de hipocrisia!

quarta-feira, março 02, 2005

Attack on our Civil Liberties II


In Independent, 1/3/2005.

terça-feira, março 01, 2005

Attack on our Civil Liberties

Here in the UK, we are assisting to an interesting discussion. The labour government of Tony Blair is proposing a new bill to prevent terrorism. If this bill becomes a law, a suspect of terrorism may be arbitrarily detained, by decision of the Home secretary (a politician), for an indefinite period, based on evidence provided by the secret services, and without being able to challenge the evidence against him.

This constitutes an unprecedented attack to civil liberties in western Europe — the right to a fair trial is a fundament of our laws. This undermines the very basis of our civilization as we know it, based on the principle of illuminism and the French revolution.

Blair's government argues that we must restrict our liberties in order to properly fight terrorism —"Britain is under a serious terrorist threat", the government says. We should ask ourselves how serious is this threat? To attack Iraq, Blair dramatised and distorted facts as to justify the invasion. We believe that this bill is also a struggle for his political survival. He is afraid that if such a terrorist attack occurs, public opinion will turn against him, blaming the attack on Britain's participation in the invasion of Iraq, as it happened in Spain with Aznar. But, it is exactly the Spanish example that should have taught Blair a lesson: lying to people, and exploiting terrorist attacks and consequent fears, can be very harmful to those in power.

Are these proposed measures really essential to our protection? How come terrorist attacks have been prevented already in this and other countries? Who is going to protect me from a future authoritarian government, from unlawful and arbitrary imprisonment? The arguments of these government are sinister. Have we forgotten that this kind of arguments were also used to cover and justify the raise of fascism in Europe? Can we afford to forget that our civilised Europe gave birth to fascism and nazism?

As several readers of today's Independent wrote:
Those of us who oppose the bill must make it clear to the government that we prefer the risk of terrorism to the risk of injustice. We must not pretend that the choice does not exist.

We should not assume that a terrorist is someone else, what is at stake here is that a government can always define a terrorist how it wishes.

The bigger threat is to succumb to totalitarianism. That means misery on every day and on every street.
Chiara and Nuno.

Where is my Mind?

Hoje estou num daqueles dias em que sinto dificuldade em me concentrar. A minha mente vagueia e teima em não se focar naquilo que eu quero — será que quero mesmo? Nestas alturas, vem-me à memória uma das minhas músicas preferidas: o where is my mind dos Pixies. O filme Fight Club, termina, em apoteose, ao som desta música — uma excelente escolha, aliás, do realizador, bastante apropriada ao argumento do filme.

Aqui deixo um excerto da letra de where is my mind, e a própria música. Espero que sirva de consolo a todas aqueles cujas mentes, como a minha, teimam em vaguear.

(Música aqui)
Ooooooh - stop

With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself

Where is my mind
Where is my mind
Where is my mind

I was swimmin' in the Carribean
Animals were hiding behind the rock
Except the little fish
But they told me, he swears
Tryin' to talk to me to me to me

Where is my mind
Where is my mind
Where is my mind

Podem encontrar esta e outras preciosidades da banda de Boston, como Debaser e Monkey Gone to Heaven, na colectânea Wave of Mutilation.