quinta-feira, março 03, 2005

Que País é? (II)

Um padre católico fez sair um anuncio na imprensa, declarando a sua recusa em dar a comunhão a todos os católicos que usam métodos contraceptivos ou que recorram à reprodução assistida, nas palavras do padre:
(...) todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes. [Através de] diversas pílulas, DIU [dispositivo intrauterino] e pílula do dia seguinte. [E os que recorrem a] técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração, da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem.
Que país é? Como é óbvio: Portugal. O mais conservador dos países católicos na europa, aonde ainda há padres que têm a lata de vir dizer coisas destas.

A publicação daquele anúncio nos princípais jornais portugueses custou 1300€ — o que dá que pensar —, segundo o padre, o franciscano Nuno Serras Pereira, o dinheiro para a publicação do anúncio foi comparticipada por alguns dos seus amigos (aqui). Felizmente, a igreja portuguesa veio oficialmente condenar esta acção e prometeu que o padre será admoestado — a ver se isto é só para mostrar desagrado perante as televisões, ou se é de facto para cumprir. Sobre este assunto há ainda o excelente artigo de opinião do Nuno Pacheco no Público (aqui).

Eu gostaria de dizer ao senhor padre Nuno Serras Pereira, e a outras pessoas que pensam como ele, que a sua decisão não me afecta minimamente. Não sou nem católico, nem cristão, nem de qualquer outra religião. Se algum dia me vier a casar, não será concerteza através da igreja católica. Não preciso da comunhão deste, ou de qualquer outro padre, para nada. Há muito que deixei de ligar a este tipo de mensagens vindas de certos sectores da Igreja portuguesa, como há muito que sou crítico em relação à influência que a igreja católica tem na vida dos portugueses. Nós, portugueses, não precisamos de vocês para nada, deixem-nos viver as nossas vidas, e deixem a nossa sexualidade em paz — basta de hipocrisia!

5 Comments:

At 3/03/2005 9:02 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu acho que estes padres vivem fora da realidade (voto de castidade e outras coisas do género que os põem loucos) e por isso ultrapassa-lhes e não aceitam o que para nós é tão objectivo e claro. Tornam-se fundamentalistas, julgam-se inspirados por Deus e consideram-se com uma superioridade que lhes dá o direito de dizer estes disparates. É uma pena...pessoalmente não acho que fosse essa a mensagem de Crito, que incentivava a tolerância e compreensão. A hipocrisia desta gente é contrária à doutrina cristã. Mais tarde ou mais cedo terão que mudar...é uma questão de tempo. Zé

 
At 3/03/2005 11:29 da tarde, Blogger Nuno said...

Concordo com tudo o que disseste Zé. Mas gostava de pegar em "Mais tarde ou mais cedo terão que mudar." Pois olha, eu acho que se não fizermos nada, se não mostrarmos a nossa indignação, nada muda! O facto de este anúncio ter sido bastante criticado em Portugal é que obrigou o patriarcado a clarificar a sua posição e a tomar uma posição. Nada disto teria acontecido se as pessoas não tivessem reagido.

Como tu dizes, a acção daquele padre é puro fundamentalismo. Pois é bom que a igreja o reconheça, e faça alguma coisa para que este tipo de coisas não se repitam. Mais, a posição oficial da igreja, ao nível do vaticano é também muito fundamentalista. Eu quero que as coisas mudem. Quero quem em Portugal seja legalizado o aborto, que é o que estes sectores mais conservadores da igreja católica não querem. Porque é que julgas que estas coisas estão a acontecer?

 
At 3/07/2005 3:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ainda não compreendi porque é que tanta gente que se diz não católica se sente e afirma incomodada com o anúncio do Pe. Nuno Serras Pereira. Afinal, como frisam, apenas diz respeito aos fièis da Igreja Católica e, de entre estes, àqueles que se sentirem directamente visados.Gostraia, pois, que fizessem o mesmo que reclamam para si. Ou seja, se dizem não ser católicos, não pretenderem vir a ser - e estão no seu direito - e pedirem que não se metam na sua vida - o que não se faz, pelas razões que já apontei - deixem-nos também anós, crentes, em paz e não tenham a presunção de nos virem doutrinar. Afinal, telhados de vidro, todos temos...

 
At 3/07/2005 3:51 da tarde, Blogger Nuno said...

Olá liberdade. Não sei quem és.

Eu não estou a doutrinar ninguém. Estou simplesmente a dar a minha opinião. Respeito as pessoas que são religiosas. O anúncio do pe Serras Perreira não é inocente. Ele está a fazer política usando a sua batina de padre. E se ele faz política em matérias como o aborto, tem que se sujeitar aos comentários de todos. A política em Portugal, felizmente, é secular. O problema é que muitos, como o Pe Serras Pereira, gostariam que não fosse assim. Aquilo que as pessoas como o Pe Serras Pereira querem é que o "não" vença no próximo referendo ao aborto. O que para mim é, de todo, inaceitável. Como cidadão português sinto-me no direito de debater e opinar para desmistificar este dogma religioso, que tem uma influência negativa na vida de milhares de mulheres residentes em Portugal.

 
At 3/07/2005 6:57 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Liberdade, eu sou católico e praticante e não é por isso que aceito as palavras do padre. Comungar é da consciência de cada um e não cabe ao padre proibir ninguém. A atitude dele é muito pouco católica e revela uma arrogância própria de grande parte da hierarquia da igreja. A verdadeira mensagem cristã permanece no tempo, enquanto que as atitudes destes padres são temporárias e próprias de certas épocas. Julgo que neste período já estão ultrapassadas e na altura de passarem à história. Zé

 

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