quinta-feira, março 24, 2005

O Novo Referendo do Aborto

O novo referendo ao aborto tudo indica que irá ocorrer ainda este ano (aqui 1, 2). O cardeal patriarca, D. José Policarpo, mostra-se incomodado com o referendo porque, defende, este pode dividir a sociedade:
O caso concreto do aborto, é antes demais uma questão muito dolorosa, que divide a sociedade, até porque tem sido muito hipertrofiada, nem sempre apresentada com a clareza do drama. É uma questão fracturante, que vai dividir a sociedade ao meio. Num referente, ganhe o sim ou o não, é apenas uma página mais do drama, porque a sociedade ficará mais dividida. Num momento em que Portugal precisa convergir, não sei se é prudente... (aqui 1, 2, 3)
A sociedade portuguesa há muito que está divida nesta questão. E não é, concerteza, o silêncio que vai apaziguar a sociedade. D José Policarpo adianta:
É um erro no qual eu não quero colaborar: o de apresentar o não ao aborto como uma questão religiosa. Não é uma questão religiosa, é uma questão de cultura, é uma questão de ética fundamental. (aqui)
Se não é uma questão religiosa então, por favor, não venham fazer campanha eleitoral pelo "não" nas missas dominicais. Eu concordo consigo, D José Policarpo, é uma questão de ética. A minha ética é não fechar os olhos à realidade, à injustiça e ao sofrimento de milhares de mulheres que em Portugal se vêm forçadas a recorrer ao aborto ilegal.
Em Portugal são praticados, pelo menos, 20.000 abortos ilegais por ano. Em resultado de complicações resultantes desses abortos ilegais, todos os anos cerca de 5.000 mulheres são atendidas em hospitais e, nos últimos 20 anos, morreram cerca de 100 mulheres desnecessariamente (dados do Ministério da saúde, APF). Isto significa que em Portugal uma mulher tem um risco de morrer em resultado de um aborto 150 vezes superior ao de uma mulher que viva nos Países Baixos. (aqui)
O referendo ao aborto vai ser uma das batalhas mais interessantes que se irão travar em Portugal. Não é apenas o aborto que está aqui em questão. É o princípio da livre escolha na nossa sociedade. É um Portugal moderno, que as pessoas mais conservadoras em Portugal se opõem. Vai ser uma batalha difícil: vamos ter que lutar contra o dogma religioso.