Com tanto crime que continua impune...
Somos um casal a viver em Inglaterra. Para combater o tédio criámos este blogue. Esperemos que gostem. Email: nunochiara[arroba]portugalmail.pt
Em Doñana, na Andaluzia, nascem as primeiras crias em cativeiro do lince ibérico (aqui).
O caso concreto do aborto, é antes demais uma questão muito dolorosa, que divide a sociedade, até porque tem sido muito hipertrofiada, nem sempre apresentada com a clareza do drama. É uma questão fracturante, que vai dividir a sociedade ao meio. Num referente, ganhe o sim ou o não, é apenas uma página mais do drama, porque a sociedade ficará mais dividida. Num momento em que Portugal precisa convergir, não sei se é prudente... (aqui 1, 2, 3)A sociedade portuguesa há muito que está divida nesta questão. E não é, concerteza, o silêncio que vai apaziguar a sociedade. D José Policarpo adianta:
É um erro no qual eu não quero colaborar: o de apresentar o não ao aborto como uma questão religiosa. Não é uma questão religiosa, é uma questão de cultura, é uma questão de ética fundamental. (aqui)Se não é uma questão religiosa então, por favor, não venham fazer campanha eleitoral pelo "não" nas missas dominicais. Eu concordo consigo, D José Policarpo, é uma questão de ética. A minha ética é não fechar os olhos à realidade, à injustiça e ao sofrimento de milhares de mulheres que em Portugal se vêm forçadas a recorrer ao aborto ilegal.
Em Portugal são praticados, pelo menos, 20.000 abortos ilegais por ano. Em resultado de complicações resultantes desses abortos ilegais, todos os anos cerca de 5.000 mulheres são atendidas em hospitais e, nos últimos 20 anos, morreram cerca de 100 mulheres desnecessariamente (dados do Ministério da saúde, APF). Isto significa que em Portugal uma mulher tem um risco de morrer em resultado de um aborto 150 vezes superior ao de uma mulher que viva nos Países Baixos. (aqui)O referendo ao aborto vai ser uma das batalhas mais interessantes que se irão travar em Portugal. Não é apenas o aborto que está aqui em questão. É o princípio da livre escolha na nossa sociedade. É um Portugal moderno, que as pessoas mais conservadoras em Portugal se opõem. Vai ser uma batalha difícil: vamos ter que lutar contra o dogma religioso.
Conheço dezenas de casos de pessoas e jovens que são cidadãos portugueses, não sabem nada dos outros países e estão à margem da sociedade porque não lhes é concedida a nacionalidade portuguesa. (..) Não pode ser uma política de porta aberta, mas deve ser assumida de forma séria e tendo em vista a integração das pessoas. (...) Não há cidadãos dispensáveis.Os resultados deste estudo são de facto preocupantes. Acho que temos mesmo que levar o combate ao racismo e à xenofobia mais a sério. Não podemos fechar os olhos perante esta realidade. Certos comentários racistas que entre portugueses "passam" têm mesmo que começar a ser veementemente condenados. Eu que vivo no estrangeiro e estou sempre a criticar a xenofobia britânia, não posso ficar quieto perante isto. Aqui fica o meu contributo para uma maior consciência deste problema por parte dos portugueses, acompanhado de um link para a ONG SOS Racismo — RACISMO E XENOFOBIA, NÃO!



Não se evoluiu no desenvolvimento de novas formas de organização, não se mudou a saúde, a educação, a administração. Avançou-se nas redes de comunicações, o que é muito importante porque as redes são a infra-estrutura, mas é o mais fácil de fazer.(...) cada cultura e cada sistema institucional têm de encontrar o seu próprio modelo a partir de um núcleo comum de princípios: o papel central das tecnologias de informação e comunicação e da inovação, o conhecimento como matéria-prima, a ideia de que o valor acrescentado está mais no processo do que o produto.

O lince ibérico é uma espécie em vias de extinsão, o que poderá acontecer a curto prazo. Segundo a associação portuguesa SOS Lince já só existem cerca de 100 examplares desta expécie em todo o mundo, o que constrasta com os 100 mil exemplares que existiam na península ibérica no princípio do século XX (aqui). O lince ibérico não se reproduz em cativeiro (pelo menos até agora nunca aconteceu), o que torna a preservação da espécie ainda mais difícil., 3.

terça-feira, março 08, 2005
Dia Internacional da Mulher
Hoje é o dia internacional da mulher. Com este post deixo aqui duas referências alusivas a este dia: uma página das Nações Unidas sobre a história do dia da mulher (aqui) e uma referência para a notícia do público de hoje sobre uma "carta à humanidade" redigida por grupos feministas de todo o mundo (aqui), apelando à igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz no mundo. Envio, também, uma flor (virtual é certo, mas o que conta é a intenção) e um grande beijinho à Chiara e a todas as leitoras do Blogue do Nuno e da Chiara.

segunda-feira, março 07, 2005
Financial Times, um jornal de direita concerteza!
Já não tenho dúvidas, o Financial Times é um jornal de direita concerteza! Eu já via o "Financial" no nome do jornal como um forte indício, mas com o artigo de hoje, sobre a formação do novo governo português, as minhas dúvidas sobre a orientação política deste jornal passaram a certezas.
O artigo de hoje, da autoria do senhor Peter Wise, o correspondente do FT em Lisboa, mostra surpresa pela nomeação de Diogo Freitas do Amaral como ministro dos negócios estrangeiros (aqui 1, 2). Diz o FT que Freitas do Amaral é um antigo líder conservador e um crítico da invasão do Iraque liderada pelos EUA, o FT refere ainda que Freitas do Amaral chegou a comparar George W. Bush a um ditador fascista. O FT cita a reação do CDS/PP a esta nomeação: "pode prejudicar as relações próximas que existem entre Portugal e os EUA". O artigo do FT refere ainda que o novo governo inclui dois ex-membros do partido comunista português!
O senhor Wise, autor do artigo, demonstra alguma inocência em relação a Portugal e à forma como funciona a política neste país tão especial. O país é de facto tão especial que o senhor Wise demonstra até algum despeito. Senhor Wise, gostaria de lhe dizer algumas coisas sobre a política em Portugal e na Europa.
- As declarações do CDS/PP como partido têm que ser interpretadas com cuidado, senhor Wise. O CDS/PP é um partido muito traumatizado. Sofreu uma pesada derrota nas ultimas eleições, tendo perdido o seu líder. Apresenta, portanto, neste momento, o sintoma do cão sem dono, ou seja, não sabe se há-de ladrar, rosnar ou ganir, morder ou lamber, ser agressivo ou meigo. Este partido tem também o complexo do filho renegado em relação a Freitas do Amaral, um dos fundadores do partido. Portanto as declarações deste partido sobre Freitas do Amaral são sempre azedas, melindrosas, e sempre muito pouco racionais. O caso do CDS/PP é do foro psiquiátrico, senhor Wise. Como se faz com as declarações de todos os doidinhos, senhor Wise, o melhor é sorrir e dizer que sim acenando com a cabeça.
- Não é supresa que Freitas do Amaral se tenha oposto à invasão do Iraque, senhor Wise. Muitos outros políticos conceituados, por essa Europa fora, à esquerda e à direita, também se oposeram. A invasão do Iraque foi feita à margem do conselho de segurança das Nações Unidas, o que constitui uma violação do direito internacional, demonstra um profundo desrespeito pelas instituições, e abre um precendente perigosíssimo. Freitas do Amaral sempre respeitou as instituições, foi, aliás, presidente da assembleia geral das nações unidas. Muito lhe deve ter custado ver uma decisão tão séria como aquela, ser tomada de uma forma tão leviana à margem das NU, e por um conjuntos de países a quem se exige responsibilidade acrescida.
- Também não é supresa que o novo governo socialista (centro-esquerda) de Portugal seja composto por um ministro que foi líder de um partido conservador, e por dois ministros ex-comunistas. Talves seja surpresa para si, senhor Wise, que é britânico; eu compreendo, no seu país os partidos comunistas não têm expressão, e os partidos de centro-esquerda governam como se fossem partidos de centro-direita continentais. Mas na europa continental, e em especial no sul, as metamorfoses cromáticas são comuns, o espectro cromático, aliás, é mais diverso e cheio de contrastes. Em França, o governo socialista de Jospin era composto por vários ministros ex-comunistas e, até imagine-se, comunistas. Em Itália, Romano Prodi, o anterior presidente da comissão europeia, era de um partido democrata-cristão, agora é lider de uma coligação de centro-esquerda.
- Mas o político que mais "metamorfoseia", esquece o seu jornal de mencionar, é Durão Barroso, o actual presidente da comissão europeia. Durão Barroso é muito acarinhado pelo seu jornal, as sua políticas business-friendly são muito apreciadas nessa casa (aqui). Mas às vezes, no meio de tanto elogio, esquecem-se de mencionar aquilo em que ele é melhor: Durão Barroso é um autêntico e bravo camaleão. Foi de um partido de extrema-esquerda, depois mudou para um partido de centro-direita. Como ministro dos negócios estrangeiros, sempre defendeu o respeito pelas instituições e o direito internacional; mais tarde, como primeiro-ministro, reafirmou esta sua convicção, mas decidiu apoiar a invasão do Iraque. Recebeu um convite para assumir a presidência da CE quando era primeiro-ministro em Portugal, aceitou, mas deixou no lugar de primeiro ministro, que o povo português havia confiado a ele, um político que ele considera incompetente, que pensa de maneira muito diferente da sua, e que não dava quaisquer garantias de continuidade com o seu programa de governo.
sexta-feira, março 04, 2005
O Anúncio do Padre Serras Pereira
Aqui vai o anúncio do padre Nuno Serras Pereira, publicado em vários jornais portugueses (obtido do Blogue Diário Ateísta):
PARTICIPAÇÃO AOS INTERESSADOS
Na impossibilidade de contactar pessoalmente as pessoas envolvidas o padre Nuno Serras Pereira, sacerdote católico, vem por este meio dar público conhecimento que, em virtude do que estabelece o cânone 915 do Código de Direito Canónico,
está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes
quer através de diversas pílulas, do DIU, da pílula do dia seguinte - ou outras substâncias que para além do efeito contraceptivo possam ter também um efeito letal no recém concebido; quer por meio das técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração (sic), da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem...; quer através da legalização do aborto (votar ou participar em campanhas a seu favor), o que inclui a aceitação ou concordância com a actual «lei» em vigor (6/84 e seus acrescentos); quer ainda pela eutanásia.
O respeito pelo culto e pela reverência devida a Deus e a Seu Filho sacramentado, o cuidado pelo bem espiritual dos próprios, a necessidade de evitar escândalo, e a preocupação pelos sinais educativos e pedagógicos para com o povo cristão e para com todos são razões ponderosas que, seguramente, ajudarão a compreender a razão de ser deste grave dever que o cânone 915, vinculando a consciência, exige dos ministros da Eucaristia.
Da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo convida todos ao arrependimento e à retractação pública, para que refeita a comunhão com Deus e a Sua Igreja possam receber digna e frutuosamente o Corpo do Senhor.
a)_________________________
Pe Nuno Serras Pereira
In Público», de 2/3/2005, pg. 16
quinta-feira, março 03, 2005
Que País é? (II)
Um padre católico fez sair um anuncio na imprensa, declarando a sua recusa em dar a comunhão a todos os católicos que usam métodos contraceptivos ou que recorram à reprodução assistida, nas palavras do padre: (...) todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes. [Através de] diversas pílulas, DIU [dispositivo intrauterino] e pílula do dia seguinte. [E os que recorrem a] técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração, da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem.
Que país é? Como é óbvio: Portugal. O mais conservador dos países católicos na europa, aonde ainda há padres que têm a lata de vir dizer coisas destas.
A publicação daquele anúncio nos princípais jornais portugueses custou 1300€ — o que dá que pensar —, segundo o padre, o franciscano Nuno Serras Pereira, o dinheiro para a publicação do anúncio foi comparticipada por alguns dos seus amigos (aqui). Felizmente, a igreja portuguesa veio oficialmente condenar esta acção e prometeu que o padre será admoestado — a ver se isto é só para mostrar desagrado perante as televisões, ou se é de facto para cumprir. Sobre este assunto há ainda o excelente artigo de opinião do Nuno Pacheco no Público (aqui).
Eu gostaria de dizer ao senhor padre Nuno Serras Pereira, e a outras pessoas que pensam como ele, que a sua decisão não me afecta minimamente. Não sou nem católico, nem cristão, nem de qualquer outra religião. Se algum dia me vier a casar, não será concerteza através da igreja católica. Não preciso da comunhão deste, ou de qualquer outro padre, para nada. Há muito que deixei de ligar a este tipo de mensagens vindas de certos sectores da Igreja portuguesa, como há muito que sou crítico em relação à influência que a igreja católica tem na vida dos portugueses. Nós, portugueses, não precisamos de vocês para nada, deixem-nos viver as nossas vidas, e deixem a nossa sexualidade em paz — basta de hipocrisia!
quarta-feira, março 02, 2005
terça-feira, março 01, 2005
Attack on our Civil Liberties
Here in the UK, we are assisting to an interesting discussion. The labour government of Tony Blair is proposing a new bill to prevent terrorism. If this bill becomes a law, a suspect of terrorism may be arbitrarily detained, by decision of the Home secretary (a politician), for an indefinite period, based on evidence provided by the secret services, and without being able to challenge the evidence against him.
This constitutes an unprecedented attack to civil liberties in western Europe — the right to a fair trial is a fundament of our laws. This undermines the very basis of our civilization as we know it, based on the principle of illuminism and the French revolution.
Blair's government argues that we must restrict our liberties in order to properly fight terrorism —"Britain is under a serious terrorist threat", the government says. We should ask ourselves how serious is this threat? To attack Iraq, Blair dramatised and distorted facts as to justify the invasion. We believe that this bill is also a struggle for his political survival. He is afraid that if such a terrorist attack occurs, public opinion will turn against him, blaming the attack on Britain's participation in the invasion of Iraq, as it happened in Spain with Aznar. But, it is exactly the Spanish example that should have taught Blair a lesson: lying to people, and exploiting terrorist attacks and consequent fears, can be very harmful to those in power.
Are these proposed measures really essential to our protection? How come terrorist attacks have been prevented already in this and other countries? Who is going to protect me from a future authoritarian government, from unlawful and arbitrary imprisonment? The arguments of these government are sinister. Have we forgotten that this kind of arguments were also used to cover and justify the raise of fascism in Europe? Can we afford to forget that our civilised Europe gave birth to fascism and nazism?
As several readers of today's Independent wrote:
Those of us who oppose the bill must make it clear to the government that we prefer the risk of terrorism to the risk of injustice. We must not pretend that the choice does not exist.
We should not assume that a terrorist is someone else, what is at stake here is that a government can always define a terrorist how it wishes.
The bigger threat is to succumb to totalitarianism. That means misery on every day and on every street.
Chiara and Nuno.
Where is my Mind?
Hoje estou num daqueles dias em que sinto dificuldade em me concentrar. A minha mente vagueia e teima em não se focar naquilo que eu quero — será que quero mesmo? Nestas alturas, vem-me à memória uma das minhas músicas preferidas: o where is my mind dos Pixies. O filme Fight Club, termina, em apoteose, ao som desta música — uma excelente escolha, aliás, do realizador, bastante apropriada ao argumento do filme.
Aqui deixo um excerto da letra de where is my mind, e a própria música. Espero que sirva de consolo a todas aqueles cujas mentes, como a minha, teimam em vaguear.
(Música aqui)
Ooooooh - stop
With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself
Where is my mind
Where is my mind
Where is my mind
I was swimmin' in the Carribean
Animals were hiding behind the rock
Except the little fish
But they told me, he swears
Tryin' to talk to me to me to me
Where is my mind
Where is my mind
Where is my mind
Podem encontrar esta e outras preciosidades da banda de Boston, como Debaser e Monkey Gone to Heaven, na colectânea Wave of Mutilation.
