segunda-feira, outubro 31, 2005

Fátima Felgueiras

O destaque do Público d'hoje, dedicado ao caso Fátima Felgueiras, é de fazer arrepiar os cabelos. A promiscuídade que alí é relatada entre poder judicial e poder político é, no mínimo, repugnante. Ficam aqui algumas citações de um dos artigos do público d'hoje:


No início de 2003, o procurador-geral da República tinha sido alertado para indícios de conivência do MP com a autarca, mas a iniciativa parece não ter surtido qualquer efeito. (...)

Já então eram sugeridas as pressões de que eram alvo aquelas testemunhas - recentemente também comunicadas pela PJ -, sendo igualmente relatados factos que envolviam um dos mais altos-quadros do MP, que desempenhava as funções de secretário-geral da Procuradoria-Geral da República na época em que foi remetida ao então procurador-geral, Cunha Rodrigues, a denúncia anónima que deu origem à investigação do "saco azul" do Partido Socialista.

Aquele magistrado - que actualmente é o representante de Portugal no "Eurojust" (organismo que coordena os departamentos da luta contra a corrupção no espaço europeu), depois de ter sido secretário de Estado da Justiça durante um dos governos do PS liderados por António Guterres - é suspeito de ter fornecido a Fátima Felgueiras uma cópia da denúncia enviada a Cunha Rodrigues, numa altura em que a PJ de Braga não tinha iniciado sequer as investigações.

O magistrado em causa tinha antes estado colocado no Tribunal de Felgueiras, altura em que fez amizade com o casal Fátima Felgueiras/Sousa Oliveira. O documento terá chegado às mãos da autarca durante uma deslocação daquele magistrado a Felgueiras, em 21 de Janeiro de 2000, para participar num jantar de homenagem a um funcionário judicial, facto que foi registado pela imprensa local.


Eu gosto disto. O mesmo magistrado que é suspeito de influenciar o processo e, portanto, abuso de poder, é o mesmo que representa Portugal no "Eurojust", o organismo que coordena os departamentos da luta contra a corrupção no espaço europeu. Se isto não é uma palhaçada é o quê?

E assim vai Portugal. Um paísinho à beira-mar plantado, que antes foi grande, mas que hoje já não interessa a ninguém. Porque ele é feito de pessoas mesquinhas e muito pequeninas, que estão mais preocupadas em alcançar o poder para seu próprio usufruto, do que o usar para contribuir para o bem comum, uma sociedade mais justa e um país mais civilizado. Pois, eu sei que sou ingénuo. Mas o que hei-de fazer?