sexta-feira, julho 22, 2005

Megalomania à portuguesa

Muitos bons os artigos de opinião do Miguel Sousa Tavares e do Vasco Púlido Valente no público de hoje (pago). Ajudam-nos a perceber porque razão se demitiu Luís Campos e Cunha como ministro das finanças.

Por trás desta demissão, parece estar a relutância do ministro em aceitar os projectos megalómanos do TGV e da OTA, contra a opinião do primeiro-ministro e outros ministros do actual governo. Que os políticos portugueses têm tendência para a megalomania já a gente sabe. Mas, pelos vistos, tardam em aprender com os erros do passado. Em Portugal é assim: podem faltar as coisas mais básicas, mas existe sempre espaço para a grande obra pública.

Por exemplo aonde eu moro, concelho de Almada. Existe a grande estação de comboios do Pragal, uma verdadeira apologia da modernidade. Depois, à volta da estação, faltam as coisas mais básicas. Os passeios à volta da estação são uma autêntica vergonha. Eu preferia uma estação mais modesta e melhores passeios.

Para quê construir um novo aeroporto em Lisboa, quando o actual, mais a transformação de pequenos aeroportos militares, em Alverca ou no Montijo, para as Low cost, chega e sobram? Para quê o TGV de Lisboa ao Porto? Se os actuais pendulares circulassem na velocidade máxima, a viagem entre lisboa e Porto duraria 2h05m; para isso basta que modernizem a linha do norte — há mais de 10 anos que andam a fazer isto. Isto é óptimo, chega e sobra para Portugal. Aqui no Reino Unido demora-se mais de 2 horas a chegar de Londres a Manchester, 4 horas de Londres a Edimburgo e ninguém fala em TGV.

O único TGV que faz sentido é o Lisboa Madrid. Esse sim! Porque Madrid é o centro económico da peninsula ibérica, porque a actual ligação entre as duas cidades é uma desgraça, e porque a ligação ferroviaria com Madrid é a ligação ferroviária com o resto da europa.

Nos Lusiadas há o personagem do velho do restelo. Eu já quando andava às voltas com os lusiadas nas aulas de português do liceu, admirei a forma como velho do restelo criticou a epopeia maritima — ele lá tinha a sua razão. E de facto acho que é isso que é preciso aos portugues, ser um bocadinho velhos do restelo: questionem as coisas, não se deixem levar na conversa dos outros. Para quê gastar não sei quantos biliões para fazer esta merda? Afinal quem ganha com isto tudo? Eu é que não sou de certeza, não sou empresário da construção civil, engenheiro civil ou trolha! Mas que há quem ganhe com isto lá isso há. Não admira que haja tanta gente contente com a demissão de Luis Campos e Cunha.