O Consumidor Ético
O jornal inglês "Independent" de hoje fala de um dilema que aflige os consumidores éticos britânicos. Antes de ir ao dilema, primeiro é importante esclarecer o conceito, consumidores éticos são todos aqueles que se guiam por considerações éticas quando efectuam as suas compras. Por exemplo, se o producto for comida, factores a ter em conta serão: se o produto é biológico ou não, se o producto é de origem local, o impacto ambiental da produção do produto, e, no caso de produtos provenientes do terceiro mundo (como o café), se os produtores foram pagos justamente sem terem sido explorados (o conceito de fair trade). Mas a escolha não é mesmo nada simples, e os grandes supermercados, por vezes, exploram comercialmente a boa vontade do consumidor ético, nomeadamente nos produtos biológicos que agora estão muito moda.
O dilema que falava o artigo do "Independent" chama-se: A milhagem da comida. Por exemplo, o consumidor vai ao supermercado e quer comprar um determinado produto, de um lado está um produto britânico não-biológico, do outro está o mesmo produto mas biológico e proveniente de um país da África meridional. A tentação do consumidor ético é levar o biológico para casa, embora seja um pouco mais caro, este produto é mais saudável e não foi produzido com pesticidas, que, come toda a gente sabe, são nocivos para o ambiente. Mas aquilo que o consumidor ético se esquece de ter em conta é, precisamente, a milhagem da comida: o produto africano teve de ser transportado de avião desde a África meridional; este transporte causa enormes emissões de CO2 (Dióxido de Carbono) para a atmosfera. Portanto, o produto biológico acaba por ser mais poluente do que o produto não biológico de proveniência local.
Pronto, agora sei que tenho que ter em conta a "milhagem da comida". Mas a questão não acaba aqui. Vamos supor que o produto provém de Moçambique, um dos países mais pobres do mundo. O consumidor ético que teima em levar o produto biológico dirá: comprando este produto não só estou a incentivar a agricultura biológica como, também, estou a ajudar um país pobre. Se o produto tiver o selo de "fair-trade", isso faz este argumento ainda mais forte.
Bom, "a moral deste conto vou resumi-la e pronto". Como é óbvio, a decisão do consumidor ético não é fácil. Escolher sempre o produto biológico nem sempre é a escolha mais correcta, como o exemplo acima demonstra. A agricultura biológica começa a ser um produto explorado comercialmente, devido à sua popularidade. Na minha opinião, é importante incentivar a agricultura biológica, mas é também importante garantir que os produtos provenientes de regiões remotas do globo, e que se encontram à venda nos supermercados, não sejam produzidos localmente. Não faz sentido transportar cenouras de Moçambique só porque são orgânicas, quando existe tanta cenoura em Portugal ou Espanha. Por outro lado, frutas tropicais, por exemplo, já faz todo o sentido, porque não temos possibilidade de produzir muita fruta tropical em Portugal ou Espanha.
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